quarta-feira, 1 de julho de 2009

Por que você faz poema?

Porque preciso do belo
Porque vou morrer
e quero o eterno

- Não quero eternizar-me;
nem glórias, nem ouro
nem louro quero

Porque no princípio
era o verbo
Porque sinto fome

E o verbo se fez carne

Porque minha boca
e corpo se saciam
nesse banqute de letra
crua

Porque me odeio e não tenho
vocação para suicida e, porque
a folha em branco ainda
me suporta
e assusta

E porque preciso dizer uma palavras
tão doces e ásperas e meigas

- Mas não posso -

E então me tornaria um espantado
- incompreendido? -

-Por que me abandonaste?

Não sou digno da poesia,
- Meus Deus!
Mas escrevo
porque me atrevo - a afronto -
e dela preciso
ela
material
ela
humus para o meu viver:

AVE PALAVRA
cheia de graça,
que te quero pura, que te quero
ainda que desgraçada

Porque a imaterial beleza explode em mim
e... não posso me conter...
porque amo, ... caos ...
desejo, vivo e experiencio ...caos... e
nessa experiência me elevo e sou rebaixado,
e sou mais um no meio ...caos... dessa multidão
de versos e congestionamento de estrofes,
neste caos total
a que chamo poesia.

Stabat Mater

Às vezes me pego relendo algo
que de tão meu me deixa emocionado.
- Meu Deus quem escreveu fui eu?
Muito emocionado: - Sou menos um fraco.

Obrigado Pai pelo dom da letra
Obrigado Filho redentor do verso
Glória ao Espírito do som e ritmo
eterno e à mãe que tem útero. Amém.

Ao pobre que já bem mais forte;
bardo andando à mercê da morte,
vê que jaz um outro filho seu
fruto d'árduas horas e de cardos.

Efemérides nº2

Passarinho voou voou
no imenso azul anil...
Uma folha caiu caiu
E o vento a arrastou...

Olho dela piscou, fechou
E guardou consigo o meu coração.

Efemérides nº1

Na vida em que eu vivi
perdi tudo o quanto foi de meu
Amputaram-me pernas e braços
Nem os dedos me restaram
para um último adeus.

Conjugação Vendaval

Eu vento
Tu ventas
Ele venta
Nós inventamos
Vós e eles, os poetas,
também inventam.