quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ó Morte, onde está a tua vitória?

Ela levou um tiro. Ela chora, eu grito. Se contorce, sangra, multidão, seus olhos permanecem abertos, a vida em seu peito não. Ela se foi, deixou-me, pobre e escritor, homem entregue ao vento e à dor, só no mundo e permaneço aqui. Onde habita a alegria do mundo? Qual é o verdadeiro efeito e eficácia da felicidade? Mineirinho é assassinado, com treze tiros no peito, quando só bastava um, a criança é assassinada, brutal e friamente, a empregada é confundida com prostituta e assassinada, o índio, o negro pobre e trabalhador que mora na comunidade, minha mãe também, minha mãe também foi assassinada, todo mundo, todo mundo, menos eu, logo eu que não me chamo Raimundo, que empobreço a rima sem criar uma solução. Não, não há solução! Só há a dor do sentimento do mundo que habita na pequena grandiosidade do meu coração. Hoje estou vazio e só, e sinto saudades das mirongas da minha avó, que também partiu, Tia Ló, também se foi, - quando? ninguém viu. Agora, como que num espasmo, silencioso e raso, tenho medo de perder a poesia que só a vida nos dá. Cai a tarde, mais um vez, até quando? De angustiado passo a aliviado e me sinto confortado por estar casado - desde o princípio, desde que eu participo, até a infinutude do finito - com a pena vil que me acompanha e que me perderá num dia funesto, sem tarde e sem sol, bem no fim da tarde, gravado no lápide que a poesia em mim persistiu, resistiu e prevalece, permanece.