segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Fragmento de um romance inacabado

A melhor bondade é a da entrega total e neutra. De tudo que eu aprendi, o melhor foi o neutro. O neutro não é o nada. O nada é muito pouco ou quase não é, mas o neutro não. O neutro contém tudo, mas num equilíbrio tão perfeito, sublime e belo que se chama neutro.

Quero neutralizar-me em ti, ó tu que me angustias por não permitir e ter medo que vivamos o fulgor da alegria.

(...)

A vida grita em mim com uma vontade imensa de viver tal qual a cigarra que injustamente é julgada por cantar. Pobre cigarra. Ela não queria nada. Apenas alimentava a bondade em si. Tudo que ela queria era cantar, e cantava. Mas cantava porque gostava de cantar e só. Queria que sua felicidade não fosse só para si. Queria que também a pobre formiga que trabalhava tivesse o cansaço aliviado pela beleza de sua canção. Mas ela não foi compreendida; Mal interpretada. E foi punida pela tola humanidade da formiga, que se julgando tudo era nada e desprezou o neutro.

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